Recepção programada
Notas metodológicas de uma pesquisa no YouTube
DOI:
https://doi.org/10.48006/2358-0097/V10N1.E101007Palavras-chave:
metodologia; antropologia digital; estudo de recepção; YouTube.Resumo
O presente artigo propõe uma reflexão sobre a relação entre os pesquisadores que conduzem trabalho de campo em ambientes digitais e os algoritmos constitutivos das grandes plataformas contemporâneas. Para tanto, utilizarei como fio condutor argumentativo a pesquisa de campo realizada para minha tese de doutorado, que aborda a recepção de um filme blockbuster no YouTube. Uma das principais plataformas de compartilhamento de vídeos, a propriedade do conglomerado de tecnologia Alphabet Inc./Google foi utilizada como o principal meio de difusão de críticas ao referido filme, tornando-se um importante ator na constituição da impressão coletiva sobre ele. Isso se deu por meio da atuação dos algoritmos de recomendação da mídia social citada, que moldam os resultados de busca de maneira específica para cada usuário e acabam atuando como curadores do conteúdo exibido. A influência de tais estruturas algorítmicas acabaram gestando um tipo peculiar de recepção, a qual conceituei, inspirada por Taina Bucher (2018), como recepção programada. Dessa forma, o presente artigo apresenta as soluções encontradas para contornar essas limitações impostas pelo ambiente estudado. Ao mesmo tempo, aborda os questionamentos surgidos no processo, observando a necessidade de considerar, examinar e compreender o papel dos algoritmos como mediadores da pesquisa acadêmica de humanas ocorrida em plataformas, concluindo que tais entes digitais não são de todo intransponíveis, mas, ao contrário, oferecem oportunidades para o exercício da criatividade metodológica.
Referências
ABU-LUGHOD, Lila. 1991. “Writing Against Culture”. In: R. Fox (ed.), Recapturing Anthropology: Working in the Present. Santa Fe: School of American Research Press. pp. 137-162.
BONETTI, Alinne e FLEISCHER, Soraya (org.). 2006. Entre Saias Justas e Jogos de Cintura: Gênero e etnografia na antropologia brasileira recente. Porto Alegre: Editora Mulheres/Edunisc.
BRAZ, Camilo Albuquerque. 2007. “Corpo a corpo – reflexões sobre uma etnografia imprópria”. Revista Ártemis, 7: 128-144.
BUCHER, Taina. 2018. If... Then: Algorithmic Power and Politics. Nova Iorque: Oxford University Press.
CASTRO, Rosana. 2022. “Pele negra, jalecos brancos: racismo, cor(po) e (est)ética no trabalho de campo antropológico”. Revista de Antropologia , 65: e192796. DOI: https://doi.org/10.11606/1678-9857.ra.2022.192796
CLIFFORD, James e MARCUS, George (ed.). 1986. Writing culture: the poetics and politics of ethnography. Berkeley: University of California Press.
CLIFFORD, James. 2011. A Experiência Etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ.
CORRÊA, Mariza. 2003. Antropólogas & Antropologia. Belo Horizonte: Humanitas/Editora da UFMG.
DA MATTA, Roberto. 1978. “O ofício de etnólogo, ou como ter anthropological blues”. Boletim do Museu Nacional, 25: 1-12.
D’ANDREA, Carlos. 2020. Pesquisando plataformas online: Conceitos e métodos. Salvador: EDUFBA.
FLEISCHER, Soraya e TONIOL, Rodrigo. 2023. E quando a limonada antropológica azeda?. Porto Alegre: Editora Zouk.
GEERTZ, Clifford. 1989. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.
GILLESPIE, Tarleton. 2010. “The politics of ‘platforms’”. New Media & Society, Thousand Oaks, 12(3): 347-364. DOI: https://doi.org/10.1177/1461444809342738
GROSSI, Miriam. 1992. “Na busca do ‘outro’ encontra-se a si mesmo”. In: M. Grossi (org.), Trabalho de campo e subjetividade. Florianópolis: UFSC. pp. 7-18.
GUIMARÃES Jr, Mário. 2004. “Pés descalços no ciberespaço: tecnologia e cultura no cotidiano de um grupo social online”. Horizontes Antropológicos, 10( 21): 123-154. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-71832004000100006
HARAWAY, Donna. 2008. When species meet. Minneapolis: University of Minnesota Press.
________. 2009. “Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial”. Cadernos Pagu, Campinas, 5: 7–41.
HELMOND, Anne. 2015. “The Plataformization of the Web: Making Web Data Platform Ready”. Social Media + Society, 1(2): 1-11. DOI: https://doi.org/10.1177/2056305115603080
INGOLD, Tim. 2000. The Perception of the environement. Essays livelihood, dwelling and skill. Londres: Routledge.
LINS, Beatriz Accioly; PARREIRAS, Carolina e FREITAS, Eliane. 2020. “Estratégias para pensar o digital”. Cadernos De Campo, 29(2): e181821. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9133.v29i2pe181821
MALINOWSKI, Bronislaw. 1984 [1922]. Argonautas do Pacífico Ocidental: um relato do empreendimento e da aventura dos nativos nos arquipélagos da Nova Guiné Melanésia. São Paulo: Abril.
________. 1997. Um diário no sentido estrito do termo. Rio de Janeiro: Record.
MILLER, Daniel; SLATER, Don. 2004. “Etnografia on e off-line: cibercafés em Trinidad”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, 10(21): 41-65. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-71832004000100003
NORONHA, Fernanda. “Onde estão as b.girls? A pesquisa antropológica numa roda de break”. In: A. Bonetti e S. Fleischer (org.). 2006. Entre Saias Justas e Jogos de Cintura: Gênero e etnografia na antropologia brasileira recente. Porto Alegre: Editora Mulheres/Edunisc. pp. 187-208.
PEIRANO, Mariza. 2014. “Etnografia não é método”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, 20(42): 377-391. DOI: https://doi.org/10.1590/s0104-71832014000200015
PEREIRA, Luena. 2013. “Identidades racial e religiosa em Angola e no Brasil: reflexões a partir da experiência em campo em Luanda”. In: DULLEY, Iracema; JARDIM, Marta (Org.). Antropologia em Trânsito: reflexões sobre deslocamento e comparação. São Paulo: Annablume, pp. 55-85.
RABINOW, Paul. 1977. Reflections on fieldwork in Morocco. Berkeley and Los Angeles: University of California Press.
SCHATZMAN, Leonard; STRAUSS, Anselm. 1973. Field Research: Strategies for a Natural sociology. Englewood Cliffs: Prentice-Hall.
STOCKING Jr., G. 1991. Colonial Situations: Essays on the Contextualization of Ethnographic Knowledge. Madison: The University of Wisconsin Press.
STRATHERN, Marilyn. 2006. O gênero da dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas: Editora da UNICAMP.
VAN DIJCK, José; POELL, Thomas e DE WAAL, Martijn. 2018. The Plataform Society: Public Values in a Connective World. Nova Iorque: Oxford University Press. DOI: https://doi.org/10.1093/oso/9780190889760.001.0001
VELHO, Gilberto e KUSCHNIR, Karina (orgs.). 2003. Pesquisas urbanas: desafios do trabalho antropológico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.
WAGNER, Roy. 2010. A invenção da cultura. São Paulo: CosacNaify.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2024 Novos Debates
Esta obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Attribution 3.0 Unported License.
Política de Acesso Aberto
Somos uma revista de acesso aberto. Não cobramos pela publicação de artigos ou pelo acesso aos fascículos da revista.
Todo o conteúdo da revista, exceto indicação contrária em materiais específicos, está licenciado sobre Atribuição 3.0 Creative Commons Brasil (CC BY 3.0 BR).
Você tem o direito de:
– Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato
– Adaptar — remixar, transformar, e criar a partir do material para qualquer fim, mesmo que comercial.
– O licenciante não pode revogar estes direitos desde que você respeite os termos da licença.
De acordo com os termos seguintes:
– Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.
– Sem restrições adicionais — Você não pode aplicar termos jurídicos ou medidas de caráter tecnológico que restrinjam legalmente outros de fazerem algo que a licença permita.