ANTROPOLOGIA DA MORTE
Uma ficção etnográfica que habita as fronteiras entre o real e o imaginário
DOI:
https://doi.org/10.48006/2358-0097/V9N2.E9206Palavras-chave:
pandemia, covid-19, morte e ficçãoResumo
Segundo o escritor Wolfgang Iser (1996), a ficção promove duas formas de transgressão; uma de “irrealizar o real”, que serviria para não reproduzir o universo empírico na íntegra, abrindo espaços para reinventar e reivindicar novas ordens. E outra de “realizar o irreal”, onde tudo é possível acontecer, de maneira que o processo de existir e a singularidade se fazem a partir de leis e determinações próprias do autor. Dessa forma, o texto ficcional não deve ser encarado como um texto falso, mas sim como trazendo verdades consigo sob uma perspectiva diferente, em que se cria mundos e personagens imaginários. Certas “verdades” podem ser às vezes muito difíceis de serem encaradas a luz da razão, por isso lanço mão de um texto ficcional, que vai diluir a dura realidade por meio da criatividade, por esse ser um excelente recurso para proteger os sentimentos de informantes e do autor, garantindo segurança e sigilo ao primeiro. Dessa forma, crio um personagem fictício, muito peculiar e inefável, por vezes cômico e questionador, que toma o papel do etnógrafo fazendo uma descrição de um dia em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em uma cidade do interior do Brasil. Assim, o personagem funde as fronteiras entre a biopolítica foucaltiana e a tanatopolítica agambiana, bem como a necropolítica de Achille Mbembe, denunciando o genocídio que está ocorrendo no Brasil, tendo como dispositivo uma doença: a Covid19. Ele também questiona os ritos de morte que a doença provoca, acabando com todas as faustas homenagens e honrarias aos mortos, fazendo desaparecer pessoas em um genocídio tão bem estruturado que visa apagar qualquer rastro da existência humana.
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