O PROBLEMA (II) – Políticas de Avaliação Científica no Brasil de agora

Tendências e Controvérsias em torno do Fator de Impacto

Autores

DOI:

https://doi.org/10.48006/2358-0097-6211

Palavras-chave:

Fator de Impacto, Avaliação Científica, Política Científica, Periodismo Científico, Bibliometria, Cientometria

Resumo

O que acontece quando uma métrica é contratada para abreviar o processo de avaliação da produção científica? O presente artigo problematiza alguns pressupostos e explora possíveis desdobramentos subjacentes à promoção do fator de impacto a elemento determinante no processo de avaliação do periodismo científico brasileiro. Para levar a cabo esse propósito, a primeira parte do material destina-se a reconstituir rapidamente a trajetória de incorporação do fator de impacto ao Qualis, instrumento gestado no domínio da CAPES para considerar a produção científica dos programas de pós-graduação do Brasil. Observa-se que alguns dos argumentos hoje encampados pelas Humanidades para contestar a proeminência dessa técnica analítica – o fator de impacto – na avaliação das revistas científicas, já se faziam soar no país através de outros campos disciplinares. O argumento central do texto baseia-se no fato de que a pluralidade de propostas, funções e repercussões que cumprem as publicações acadêmicas periódicas não pode ser adequadamente apreciada pelo mecanismo do fator de impacto – estado de coisas que nos convoca a reaver os termos do debate. Articulando um breve e provisório mapeamento de reflexões críticas que possam contribuir para as discussões atuais sobre essa política de avaliação científica, os apontamentos preliminares aqui apresentados encontram na mirada multidimensional, tendência que deve subsidiar as futuras avaliações quadrienais dos programas que integram o Sistema Nacional de Pós-Graduação, um dos núcleos da crítica dirigida à nova edição do Qualis. Entende-se, portanto, que o fator de impacto e suas premissas, orientação mais recente assumida pela CAPES, está em franco desacordo com o que propõe mediante o novo modelo de avaliação multidimensional.

Referências

BARATA, Rita. 2016. “Dez coisas que você deveria saber sobre o Qualis”. Revista Brasileira de Pós-Graduação 13(30): 13-40.

BARREIRA, Irlys; CÔRTES, Soraya; LIMA, Jacob Carlos. 2018. “A sociologia fora do eixo: diversidades regionais e campo da pós-graduação no Brasil”. Revista Brasileira de Sociologia 6(13): 76-103.

BOTELHO, Nara Macedo; TEIXEIRA, Renan Kleber Costa; YAMAKI, Vitor Nagai. 2012. “Valorize a pesquisa brasileira: cite os periódicos científicos nacionais”. Revista Paraense de Medicina 26(3): 5-6.

BRENNEIS, Don. 2009. “Anthropology in and of the academy: globalization, assessment and our field’s future”. Social Anthropology 17(3): 261-275.

BRIGHENTI, Andrea Mubi. 2018. “The Social Life of Measures: Conceptualizing Measure–Value Environments”. Theory, Culture & Society 35(1): 23-44.

BRINGEL, Breno. “Desafios para os periódicos de Ciências Sociais no Brasil: cenários, atores e políticas”. 2015. Revista Pensata 4(2): 53-64.

CABRAL FILHO, José Eulálio. 2009. “Desafios do novo Qualis para a pós-graduação e o periodismo científico brasileiros”. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil 9(1): 9.

CABRAL FILHO, José Eulálio. 2010. “O Qualis CAPES e além”. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil 10(4): 403-404.

CADERNOS DE SAÚDE PÚBLICA et al. 2019. “Contribuições ao debate sobre a avaliação da produção científica no Brasil”. Cadernos de Saúde Pública 35(10): 1-4.

CAMARGO JR., Kenneth. 2013. Produção científica: avaliação da qualidade ou ficção contábil? Cadernos de Saúde Pública 29(9): 1707-1730.

CAMPOS, José Nilson B. 2010. “Qualis periódicos: conceitos e práticas nas Engenharias I”. Revista Brasileira de Pós-Graduação 7(14): 477-503.

CAMPOS, Luiz Augusto. 2020. “Qualis, para que te quero?”. Novos Debates 6(1-2).

CRESPI, Tatiane Baseggio et al. 2017. “Novo Qualis: Impacto na Avaliação da Produção Intelectual dos Pesquisadores em Administração”. Revista de Ciências da Admistração 19(47): 131-147.

FELDMAN-BIANCO, Bela. 2018. “A Expansão da Pós-Graduação em Antropologia: Alcances e Desafios”. In: SIMÃO, Daniel Schroeder; FELDMAN-BIANCO, Bela (Orgs.). O Campo da Antropologia no Brasil: Retrospectiva, Alcances e Desafios. Rio de Janeiro: ABA.p. 29-56.

FERNÁNDEZ-SOLA, Cayetano et al. 2011. “Factor de impacto de revistas: ¿amenaza u oportunidad?”. Aquichan 11(3): 245-255.

GASTALDO, Denise; BOSI, María Lucía. 2010. “¿Qué significa tener impacto? Los efectos de las políticas de productividad científica en el área de la salud”. Enfermería Clínica 20(3): 145-146.

INGOLD, Tim. 2016. “Tim Ingold on the Future of Academic Publishing”. Allegra Lab [Online]. Disponível em: <http://allegralaboratory.net/interview-tim-ingold-on-thefuture-of-academic-publishing/>. Acesso em: 28 out. 2020.

IVO, Anete B. L. 2020. “As Revistas Acadêmicas em Ciências Sociais: Antinomias entre conhecimento e norma (métricas)”. Novos Debates 6(1-2).

LAMONT, Michéle. 2012. “Toward a Comparative Sociology of Valuation and Evaluation”. Annual Review of Sociology 38(1): 201-221.

LEITE, João Pereira. 2010. “O novo QUALIS e a avaliação dos Programas de Pós-Graduação na área médica: mitos e realidade”. Revista Brasileira de Psiquiatria 32(2): 103-105.

LIMA, Jacob Carlos. 2020. “A Capes e avaliação da pós-graduação: considerações a partir das ciências sociais”. Novos Debates 6(1-2).

MACHADO, Lia Zanotta. 2018. “A Antropologia Brasileira: Um triplo itinerário”. In: Simião, Daniel Schhroeter; Feldman-Bianco, Bela. (Orgs.). In: SIMÃO, Daniel Schroeder; FELDMAN-BIANCO, Bela (Orgs.). O Campo da Antropologia no Brasil: Retrospectiva, Alcances e Desafios. Rio de Janeiro: ABA. p. 285-309.

MARQUES, Ivan da Costa. 2020. “Dispositivos de conhecimento, conceito narrativo do ser e avaliação da pós-graduação no Brasil”. In: NEVES, Fabrício; FONSECA, Paulo (Orgs.). Tramas epistêmicas e ambientais: Contribuições dos Estudos em Ciência, Tecnologia e Sociedade. Rio de Janeiro: 7Letras. p. 213-227.

MARTINOVICH, Viviana. 2020. Indicadores de Citación y Relevancia Científica: Genealogía de una Representación. Dados 63(2): 1-29.

MASSINI-CAGLIARI, Gladis. 2012. “Identidade das Ciências Humanas e métricas de avaliação: Qualis periódicos e classificação de livros”. Revista Brasileira de Pós-Graduação 9(18): 755-778.

MCMANUS; Concepta; NEVES, Abilio Afonso Baeta. 2020. “Production profiles in Brazilian Science, with special attention to social sciences and humanities”. Scientometrics 123: 1-23.

MUGNANI, Rogerio. 2015. “Ciclo avaliativo de periódicos no Brasil: caminho virtuoso ou colcha de retalhos?”. In: Anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 16., 2015, João Pessoa.

PACKER, Abel; MENEGHINI, Rogerio. 2007. “Learning to communicate science in developing countries”. Interciencia 32(9): 643-647.

PEREZ, Olivia Cristina. 2020. “O Novo Qualis Periódicos: Possíveis diretrizes, impactos e resistências”. Novos Debates 6(1-2).

RIZZOTTO, Maria Lucia Frizon; COSTA, Ana Maria; LOBATO, Lenaura de Vasconcelos Costa. 2019. “Os novos critérios da Capes para classificação dos periódicos e a repercussão no campo da saúde coletiva”. Saúde em Debate 43(122): 649-652.

ROCHA E SILVA, Maurício. 2010. “Qualis 2011-2013 – os três erres”. Clinics 65(10): 935-936.

SANTOS, Jean Carlos Ferreira dos; FRIGERI, Mônica; MONTEIRO, Marko Synésio Alves. 2015. Reflexões sobre o sistema de avaliação e classificação dos periódicos científicos brasileiros. Revista Pensata, v. 4, n. 2, p. 32-43.

STENGERS, Isabelle. 2002. A invenção das ciências modernas. São Paulo: Editora 34.

STENGERS, Isabelle. 2018. Another Science is Possible: a Manifesto for Slow Science. Cambridge: Polity Press.

VOGUEL, Michely Jabala Mamede. 2017. Uso de Indicadores Bibliométricos na Avaliação da CAPES: o Qualis Periódicos. In: Anais do Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação, 18., 2017, Marília. Anais… Marília.

Downloads

Publicado

18.08.2021

Como Citar

Lopes, M. . (2021). O PROBLEMA (II) – Políticas de Avaliação Científica no Brasil de agora: Tendências e Controvérsias em torno do Fator de Impacto. Novos Debates, 6(1-2). https://doi.org/10.48006/2358-0097-6211

Edição

Seção

Fórum